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Fim das torcidas organizadas para quê?

  • Convidado
  • 19 de mai. de 2017
  • 3 min de leitura

É comum ouvir a afirmação segundo a qual para erradicar a violência nos estádios e em seus entornos, nos dias de jogos, é preciso extinguir, juridicamente, as torcidas organizadas de futebol.


O argumento pode parecer clamoroso, como veremos, mas não resiste a uma análise mais aprofundada por parte de um estudioso do tema, conforme ficará assente neste artigo.


Fala-se que é preciso acabar com as torcidas porque o “crime organizado” nelas se infiltrou e ali dá as cartas. Sem entrar, por ora, no mérito da questão, é de bom-senso imaginar que seria, então, necessário fechar o Congresso Nacional e até alguns Ministérios do Governo Federal – para ficar apenas com poucos exemplos – porque há aí suspeitas ou comprovações de maus cidadãos cometendo ataques ao erário público?


Argumenta-se ainda que se a Inglaterra acabou com os hooligans, o Brasil também pode acabar com os torcedores violentos. Na verdade, a Inglaterra não acabou com os seres humanos problemáticos infiltrados em grupos de torcedores para a promoção de atos estúpidos, pois atacou as consequências, e não as causas do problema.


Ora, os brigões continuam a existir, porque as leis severas da Inglaterra apenas os tirou dos estádios, mas não chegou a extingui-los nem os extinguirá. Ao contrário, poderá fazê-los, pela solidariedade recíproca, crescerem em número. Também a Itália aplicou, nos anos de 1990, leis semelhantes às inglesas e baniu mais de 4.000 torcedores considerados violentos dos campos esportivos. Continuam a brigar, por mero prazer, fora de lá – com maior liberdade – longe do monitoramento policial. De mais a mais, não é uma proibição jurídica que impedirá brigadores de se reunirem com facilidade e sem o peso do CNPJ de uma instituição, como é o de uma torcida organizada.


Em contrário a tudo isso – no artigo Torcedores violentos ou seres humanos problemáticos. Breve reflexão antropológico-psicológica, publicado na revista Síntese: Direito Desportivo n. 20, agosto/setembro de 2014, p. 204-218 –, escrito em coautoria com a psicóloga Caren Vian Cerezer, defendemos, à luz da Psicologia Evolutiva e Clínica, a tese segundo a qual antes de existirem torcedores violentos há, na realidade, seres humanos problemáticos que têm três características especiais: são homens, gostam de brigar e, quase sempre, possuem extensa ficha policial.


Daí ser necessário oferecermos três saídas, as duas primeiras corretivas e a terceira preventiva: a curto prazo, repressão legal no local da ocorrência violenta; a médio prazo, educação ética com reavaliação da escala de valores do brigão acompanhada de psicoterapia, se for o caso; e, a longo prazo, a revalorização da família como base da formação de um indivíduo capaz de viver em uma sociedade regida pela Lei Natural Moral. Só assim, e não com a extinção das torcidas organizadas de futebol, é possível – em nível de contribuição prática – corrigir e/ou prevenir manifestações de agressividades patológicas para com o semelhante.


Enfim, pelos poucos argumentos expostos, pode-se concluir que a extinção das torcidas organizadas de futebol interessadas em subsistir (algumas parecem alheias ao próprio futuro) decretaria, ante a opinião pública, a falência do Estado incapaz de trabalhar problemas emergentes na sociedade, não obstante o aparato de que dispõe ou deveria dispor.


Aliás, quem, há anos, prometeu erradicar a violência no futebol até hoje não obteve êxito, continua desmentido pela onda de violência e de mortes, que o Estado – prostrado ante a bandalheira reinante, em parte gerada pela própria atrofia estatal –, tenta responder com medidas bobas e/ou inócuas como proibir bateria, uniformes, faixas, duas torcidas rivais no estádio etc.


Pedir apenas o fim das torcidas organizadas de futebol para combater a violência é, portanto, trilhar um caminho, sem dúvida, fácil, mas, na prática, míope e ineficaz.



Vanderlei de Lima

Filósofo, escritor e pesquisador de Torcidas Organizadas de Futebol.

E-mail: toppaz1@gmail.com

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