O papel do Serviço Social no futebol
- Convidado
- 15 de mai. de 2017
- 4 min de leitura

O Serviço Social no mundo do esporte compreende ações que visam à proteção integral das crianças e adolescentes em formação esportiva, por meio da promoção e defesa dos direitos fundamentais para garantir que a inserção destes jovens no meio esportivo contribua com o seu pleno desenvolvimento humano.
A (o) assistente social, neste espaço sócio ocupacional, busca promover discussões e intervenções nas diferentes áreas envolvidas no trabalho de formação esportiva de crianças e adolescentes.
O Serviço social é uma profissão de caráter sócio político, crítico e interventivo, que se utiliza de instrumentais científicos para análise e intervenção nas diversas realidades das demandas institucionais e dos usuários.
Tendo em vista a integralidade das ações por meio da ampliação da atuação interdisciplinar e transdisciplinar na construção de um saber coletivo direcionado para uma formação digna nas categorias de base do futebol brasileiro.
A sustentabilidade da nossa atuação profissional no futebol é de garantir e proteger os direitos das crianças e adolescentes, como preconiza a Constituição Federal de 1.988, Estatuto da Criança e do Adolescente Lei 8.069 de 1.990 e da Lei Pelé (lei 9.615 de 1.998).
No âmbito da formação da criança e adolescente no futebol houve avanços e transformações que fortaleceram a ética e a valorização do sujeito de direito, ampliando o sentido de dignidade da pessoa humana em desenvolvimento.
A (o) assistente Social, neste contexto, atua para que os direitos sejam garantidos e ampliados e que o atleta de alto rendimento possa refletir sobre os deveres que essa formação requer para um projeto de vida exitoso dentro e fora dos campos.
Um dos pilares fundamentais é a garantia da educação formal para a construção de conhecimento e ampliação da formação cultural e cognitiva, para que tenham capacidade de se reconhecerem como cidadãos do mundo.
Nas categorias de base do futebol o/a assistente social poderá utilizar instrumentais e técnicas que proporcionam dados reais sobre o histórico socioeconômico e cultural da família e do atleta em formação e criar atividades de enfrentamento para o mundo do futebol utilizando: entrevistas, acolhimento, reuniões, palestras, dinâmica de grupos, estudo social, relatórios, cadastro, anamnese social e outros (as).
Propor atividades socioeducativas de caráter preventivo que proporcionam uma crítica sobre situações que ocorrem dentro do mundo do futebol e da sociedade brasileira que refletem na sua vida e de seus familiares - que buscam a qualquer custo a ascensão social através do esporte que representa a paixão nacional.
Proposta de atividades do Serviço Social para as categorias de base do futebol:
Reunir as categorias por idade juntamente com a comissão técnica e falar sobre o papel do serviço social no futebol;
Estabelecer com todos os colaboradores envolvidos com a formação do atleta uma comunicação uniforme sobre a proposta do clube e da equipe multidisciplinar;
Desenvolver atividades intersetoriais do clube para a construção de um compliance de formação esportiva em que todos sigam regras e instruções internas, em conformidade com leis e regulamentos como princípio ético;
Acolher e orientar os atletas a partir dos 14 anos que serão alojados sobre convivência coletiva, diferenças culturais, higiene e normas de condutas;
Garantir com o gestor que o alojamento esteja com ambiência salubre e digna;
Identificar, através da anamnese social, se o atleta alojado tem condições financeiras para visitar a família e garantir a convivência, como preconizam as leis acima;
Solicitar autorização dos pais/responsáveis, assinada e reconhecida em cartório para alojar os atletas abaixo de 18 anos;
Comprovar matrícula, frequência e aproveitamento escolar e verificar quais são as dificuldades enfrentadas para desenvolver as atividades escolares;
Realizar entrevistas individuais e familiares, visitas domiciliares, acolhimento institucional, anamnese social, relatórios, encaminhamentos, grupos de atletas e de familiares; levantamento de dados; etc.;
Estabelecer com os gestores a responsabilidade de oferecer assistência educacional, social, médica, odontológica, psicológica, nutricional, higiene, segurança, transporte e convivência familiar;
Acompanhar e dar apoio aos atletas que passam por cirurgias e reabilitação;
Orientar os pais sobre a formação do(a) filho(a) no mundo do futebol e estabelecer o papel social de cada um para que essa atividade esportiva seja harmoniosa e prazerosa (pais devem ser provedores econômicos e co-gestores da proposta do clube formador);
Desenvolver oficinas e dinâmicas em grupos que abordem os temas: educação e cidadania, sexualidade e o uso correto de preservativo, gravidez na adolescência, paternidade responsável, doenças sexualmente transmissíveis, HIV, uso abusivo de álcool e outras drogas, pedofilia, tráfico de pessoas, racismo e discriminação, assédio moral e sexual, lei Maria da Penha, educação financeira para os atletas e familiares sensibilizando sobre a curta carreira do jogador profissional de futebol.
O/a profissional de serviço social desenvolve uma reflexão crítica das diversas manifestações diante do contexto e antagonismo do capital e da reprodução das relações sociais do trabalho e da violação dos direitos sociais. O Serviço Social expressa e legitima no seu cotidiano a caracterização da construção de um projeto profissional crítico e progressista e tem o compromisso ético e político de romper com a alienação e com a naturalização midiática criada na figura do jogador profissional de futebol. Sabemos que nem todos os atletas das categorias de base terão uma ascensão social no mundo do futebol; a nossa contribuição é sair das práticas singulares e apropriar-se da realidade dessa dinâmica social e intervir para que tenham outras possibilidades além das quatro linhas .
“Em uma sociedade como a nossa que se organizam por esta lógica de mercado, as pessoas são importantes enquanto são produtivas e quando não produzem é como se fossem nem sequer seres humanos. É impressionante constatarmos como o econômico invade as relações sociais e como certas práticas retiram a cidadania dos sujeitos, fragilizando a sua frágil condição humana. Não dialogam com os sujeitos em sua plenitude, desconsideram a sua consciência política, reduzindo o campo de intervenção do Serviço Social ao mero atendimento pontual da solicitação das pessoas. Nosso ato profissional é muito mais pleno do que o atendimento imediato da solicitação.É muito maior do que isso.” MARTINELLI, Maria Lúcia. Reflexões sobre o Serviço Social e o Projeto Ético político profissional. Revista Emancipação. v. 6, n. 1 (2006).
Silvana Trevisan
Assistente Social formada pela Faculdade Paulista de Serviço Social de S.C.Sul (FAPSS), Especialista em Dependência Química pela USP, Terapeuta Comunitária pela Universidade Federal do Ceará, Pós Graduada em Saúde do Trabalhador pela FUABC e Pós Graduada em Fundamentos Históricos e Metodológicos no Trabalho com Famílias (FAPSS). Pioneira do Serviço Social no futebol na Capital de SP atuou nos clubes: C.A.Juventus, Sport Clube Corinthians Paulista e Santos Futebol Clube no Departamento de formação de atletas e profissional.
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