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Podemos treinar em paz?

  • Danielle Maiolini
  • 9 de mar. de 2017
  • 3 min de leitura


Os episódios de “quero treinar em paz” (https://www.uol/olimpiadas/especiais/querotreinarempaz.htm…) expõem de que forma o esporte, assim como tantas outras esferas do nosso cotidiano, pode reproduzir um ambiente que agride e oprime aquelas que optam por fazer dessa paixão o seu trabalho.


Esporte não é coisa de mulher. Os preconceitos enfrentados pelas mulheres no esporte se iniciam logo na infância, quando a prática de algumas modalidades lhes são negadas, por serem atribuídas aos homens. Quando crianças, meninas e meninos têm o esporte como ferramenta de interação social e aprendizado. No entanto, também desde logo, as meninas descobrem que alguns desses lugares lhes pertencem menos, e escutam que “a roda da altinha não é pra você” ou são mandadas “brincar de outra coisa, de menina”.


Direcionar meninas para esportes de meninas e meninos para esportes de meninos é tão absurdo quanto a própria segmentação do mercado de trabalho em profissões para homens ou para mulheres. Podemos ser professoras, mecânicas, astronautas, atletas de vôlei, futebol, esgrima, boxe. E seremos, se quisermos.


E se a gente tivesse lá atrás, a mesma estrutura e o mesmo investimento que eles tiveram? Os investimentos no esporte masculino são em muito superiores ao feminino e, antes que se argumente haver diferenças de interesse do público ou de patrocínio, a discrepância não se justifica. Pelo contrário, evidencia que este último deve ser fomentado e impulsionado. A preterição das equipes femininas em relação às masculinas na compra e uso de equipamentos mais modernos, financiamento de viagens, e apoio institucional, é denunciada em um dos episódios como um gravíssimo entrave ao desenvolvimento das modalidades e ao desempenho do trabalho em alta performance por mulheres em todo o país.


Uma rotina de piadas, desrespeito e assédio. Em todo o mundo, a rotina incessante de piadas, desrespeito e assédio é grande causa do chamado “drop out”, o abandono do esporte, por atletas mulheres. No Brasil, o último diagnóstico do esporte, realizado em 2016 pelo Ministério do Esporte, aponta que o percentual de “drop out” é de 39% para mulheres e 19,7% para homens.


Segundo dados da ONU, em escala mundial o índice de mulheres que deixam o esporte é 5 vezes superior ao dos homens, e dentre as causas relacionadas estão os abusos sofridos por elas diariamente.


Os relatos trazidos no documentário evidenciam assédios que vão desde a violência psicológica materializada em comentários (tidos como inofensivos apenas por quem os faz) como o “vá pilotar um fogão”, feito a Priscilla Steveaux, pilota de BMX e representante da equipe brasileira nas Olimpíadas Rio 2016, a situações de violência sexual, sofridas por crianças e adultas, molestadas em exames médicos, treinos e competições.


Sou atleta antes de ser musa. Grande parte do assédio e do desrespeito está relacionada à extrema dificuldade, principalmente dos veículos de comunicação, em priorizar o desempenho em detrimento dos aspectos físicos das atletas.


A veiculação de fotos que expõem os seus corpos fora do contexto esportivo, as perguntas pessoais em entrevistas, os anúncios publicitários, e mesmo o uniforme, grande parte desses elementos parece estar voltada para que a atleta seja objetificada em sua aparência. Tornar a atleta um objeto de consumo nesse sentido desvaloriza o trabalho e a dedicação empreendidos na rotina de treinos e de sacrifícios pelo esporte.

Como relata a atleta Isadora Cerullo, jogadora da seleção brasileira de Rugbi seven, “Pra cada uma pergunta que eu recebo sobre as minhas conquistas, eu recebo cinco sobre como eu preservo a minha vaidade. Está na hora de levar mulheres atletas a sério, e parar de tratar a força feminina como tabu. Pode ser?”


Em poucas linhas, trazer essas questões tem o objetivo de nos fazer pensar, ou, repensar, a forma como o esporte de alto rendimento é consumida, e como tratamos as mulheres que dedicam suas vidas para fazê-lo com competência. De crianças a adultas, o massacre é incessante, e pode dar fim ao sonho. O objetivo da série de 05 episódios, deste texto, e dos demais, trazidos pelo Projeto “Direito no Esporte”, é encorajar mulheres e meninas a praticar o esporte, de alto nível ou não, livres de amarras; encorajar mulheres e meninas a serem autênticas, e a serem o que quiserem, porque o lugar ao qual elas pertencem é aquele em que elas queiram estar.


Danielle Maiolini Advogada. Mestranda e Coordenadora do Grupo de Estudos em Direito Desportivo na UFMG. Procuradora do STJD do Futebol.

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